sexta-feira, 11 de junho de 2010

OS ENSINAMENTOS DE PAULO FREIRE


1. QUEM FOI PAULO FREIRE

Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas idéias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos – em particular o uso da linguagem – e do papel elitista da escola.
Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar.
Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária.
Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.







2. O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM QUE PAULO FREIRE NOS DEIXOU

Muitas foram as obras que Paulo Freire nos deixou, todas elas marcadas profundamente pelo seu maravilhoso conhecimento construído e adquirido no decorrer de sua vida, considerado o mais célebre dos educadores brasileiros e reconhecido no mundo inteiro. Paulo Freire qualificou a educação da maioria das escolas como “Educação Bancária”, pois condenava o ensino oferecido onde o professor age como aquele que deposita o conhecimento em um aluno, este aluno caracterizado como receptivo e dócil.
A Educação Bancária, assim então chamada por Freire integrava o Paradigma Metafísico do Conhecimento onde o conhecimento era vista como pronto de alguém que já o tenha construído, caracteriza-se também pelo caráter da imutabilidade, estático – a relação estabelecida entre o sujeito e o objeto, o sujeito que irá conhecer e o objeto a ser conhecido, destaca-se ainda pelas teorias de Platão e de Aristóteles. Para Boufleuer, o paradigma metafísico fica assim caracterizado:
“A tradição metafísica se baseia no pressuposto de um mundo constituído de essências eternas e imutáveis, entendidas tanto como objetos do conhecimento como parâmetros para sua validação. (...) o percurso de uma vida humana se projeta então como um percurso de transposição de um estado de sombras e incertezas para um estado de luz de uma condição em que tudo é precário e acidental para uma condição de plenitude essencial.” (BOUFLEUER, p. 26 -27)
Boufleuer complementa em seguida afirmando que o professor seja o portador de uma visão essencial das coisas no qual o professor esta vendo tudo sob a luz dissipadora de toda e qualquer obscuridade; enquanto que o aluno é o sujeito “sem luz”. De acordo com esse paradigma a pedagogia é entendida como condução, passagem e transposição de um estado para outro.
Paulo Freire em seu livro “Professora Sim, Tia Não”, trata de questões concretas do cotidiano dos professores, e em relação a tarefa de ensinar, a considera uma tarefa profissional, que exige amorosidade, criatividade:
“O processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a paixão de conhecer que nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. Por isso é que uma das razões da necessidade e da ousadia de quem se quer fazer professora, educadora é a disposição pela briga justa, lúcida, em defesa dos seus direitos como no sentido da criação das condições para a alegria na escola.” (FREIRE, 1993, p. 11)

Para Paulo Freire ninguém educa ninguém, que ninguém se educa a si mesmo, mas que os homens são mediatizados pelo mundo. Essas sua palavras implica um principio fundamental, a de que o aluno, quando chega a escola traz junto consigo um cultura que não é melhor e nem pior do que a do professor. A relação estabelecida em sala de aula, no qual os dois aprenderão juntos, um com o outro e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar.
As idéias freireanas, de acordo com Laercia Maria Bertulino de Medeiros, servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão critica da prática pedagógica que implica em saber dialogar e escutar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro. Dessa maneira Paulo Freire enfatiza o ato pedagógico como uma ação que consiste em criar dialogicamente um conhecimento do mundo, este diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de consciência sobre a mesma.
“O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dá necessariamente através da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. O aprendizado do ensinante ao ensinar, se verifica na medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e os diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Alguns desses caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo caminhos de sua curiosidade – razão que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre as adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criticidade – o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar um momento rico de seu aprender.” (FREIRE, 1993, p.28)
Seguindo então as idéias de Freire, o processo ensino-aprendizagem de forma dialética associada à pesquisa, promove a formação de novos conhecimentos e traz a idéia de seres humanos como indivíduos inacabados e passiveis de uma curiosidade crescente, considerada como uma capacidade de refletir criticamente o aprendizado e capaz de levar a um contínuo no processo de ensinar e aprender



3. A RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO CONCEBIDA EM FREIRE

Através do dialogo a relação profesor x aluno deixa de ser uma doação ou imposição de conhecimento, mas uma relação horizontal, eliminando as fronteiras entre os sujeitos, pois quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se sentirão desafiados a buscar respostas, e conseqüentemente quanto mais incitados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e transformadora frente à realidade. Esta relação dialética é cada vez mais incorporada na medida em que, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo.
Neste processo pedagógico, alunos e professores são sujeitos e devem atuar de forma consciente. Não se trata apenas de sujeitos do processo de conhecimento e aprendizagem, mas de seres humanos imersos numa cultura e com histórias particulares de vida. O aluno que o professor tem à sua frente traz seus componentes biológico, social, cultural, afetivo, lingüístico entre outros.
Paulo Freire afirma no livro de Vera Barreto: “Paulo Freire para educadores”:
“o papel do educador não é propriamente falar ao educando, sobre sua visão de mundo ou lhe impor esta visão, mas dialogar com ele sobre a sua visão e a dele. Sua tarefa não é falar, dissertar, mas problematizar a realidade concreta do educando, problematizando-se ao mesmo tempo.” (BARRETO, 1998. p. 65)
Dessa maneira o papel do professor é o de dirigir e orientar a atividade mental dos alunos, de modo que cada um deles seja um sujeito consciente, ativo e autônomo. É seu dever conhecer como funciona o processo ensino-aprendizagem para descobrir o seu papel no todo e isoladamente. Pois, além de professor, ele será sempre ser humano, com direitos e obrigações diversas. Vera Barreto diz ainda que a defesa do diálogo feita por Paulo foi interpretada como um falar por falar, sem desafio para a construção de novos conhecimentos. Outras vezes, esta defesa do diálogo deu origem a idéia de que o educador democrático não pode se valer de uma exposição narrativa. Paulo Freire respondeu a esta falsa compreensão: “Pode haver diálogo na exposição critica, metódica de um educador a quem os educandos assistem não como quem ‘come’ a fala, mas como quem aprende sua intelecção” (BARRETO, 1998, p. 65). Barreto diz ainda que há um diálogo invisível, em que não se necessita inventar perguntas ou fabricar respostas e afirma, os educadores democráticos não estão – são dialógicos.
Pensar no educador como um ser humano é levar à sua formação o desafio de resgatar as dimensões cultural, política, social e pedagógica, isto é, resgatar os elementos cruciais para que se possa redimensionar suas ações no/para o mundo, pois o professor só ensina quando sabe o que vai ensinar:
“O ensinante aprende primeiro a ensinar, mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado. (...) O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebidas e bem vividas, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise critica de sua pratica.” (FREIRE, 1993, p. 28)
Paulo Freire, em seu livro, “Professora Sim, Tia Não”, afirma ainda que ensinar não pode ser um puro processo de transferência de conhecimento do ensinante para o aprendiz, ou seja, uma transferência mecânica que resulta na memorização maquinal já crticada por Freire. Segundo ele, o estudo critico corresponde um ensino igualmente critico que demanda necessariamente uma forma critica de compreender e de realizar a leitura da palavra, a leitura do mundo e a leitura do contexto.



BIBLIOGRAFIA

FREIRE, Paulo. PROFESSORA SIM, TIA NÃO: cartas a quem ousa ensinar. 1 ed. São Paulo, SP: Olho d’Agua: 1993, 127p.

FREIRE, Paulo.PEDAGOGIA DO OPRIMIDO. 17ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1987.184p.

RIBEIRO, Sabrina Luiza. PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM: DO CONCEITO à ANALISE DO ATUAL PROCESSO, disponível em: http://www.abpp.com.br/artigos/37.htm, acesso em 08/04/2010.

http////pt.shvoong.com/books/470147-pedagogia-da-autonomia-paulo-freire/,acesso em 08/04/2010.

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